Home office e os desafios no mundo do trabalho.

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O tema desperta interesse de especialistas em tempo de trabalho remoto, sendo que a nova realidade apresenta novas nuances e conflitos do trabalho no mundo contemporâneo. Hoje apresentaremos duas analises que convergem nas conclusões.
Por um lado, o professor e especialista, em Sociologia do Trabalho que leciona no Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – USP, Ruy Braga Neto, em recente entrevista concedida ao IHU (Instituto Humanitas Unisinos), observa que o “home office tem se mostrado viável até o momento, apesar de todo o improviso”. Mas, adverte, que “sua generalização e rotinização exigirão mudanças muito profundas no ambiente de trabalho, além de investimentos em plataformas digitais pelas empresas e novas soluções relativas às jornadas de trabalho”, já que a lógica de produção e de relacionamento entre o trabalhador e as tarefas a ser executada passa por uma profunda transformação, neste sentido, Braga Neto, ressalta, “O ambiente doméstico não é – e na minha opinião, nem deve ser – estruturado para favorecer a produtividade do trabalho. Em geral, os trabalhadores e os profissionais não estão preparados para trabalhar em casa ao lado das atividades mais tradicionais do lar”.
Para o especialista em sociologia do trabalho, as dificuldades para compreender os diversos impactos na vida do trabalhador são amplas: “os trabalhadores e os profissionais não estão preparados para trabalhar em casa ao lado em casa ao lado das atividades mais tradicionais do lar. Isso deve causar inúmeros problemas relacionados ao sofrimento psíquico do trabalhador e, consequentemente, à queda da produtividade do trabalho. Ou seja, as empresas terão que redefinir os parâmetros globais dessa modalidade de trabalho a partir de algum modelo híbrido no qual as atividades remotas sejam combinadas com atividades presenciais”. Alem, dos sofrimentos psíquicos e queda de produtividade, surge outro fator, que segundo Braga Neto, ira aprofundar as desigualdades existentes no mundo do trabalho, “essa tendência irá aprofundar as desigualdades existentes entre aqueles que terão condições de acompanhar as mudanças tecnológicas e aqueles que não serão capazes de se adaptar ao novo contexto social que se avizinha. A tendência é que haja um aumento das desigualdades e um aprofundamento da polarização social que fatalmente irá tensionar as estruturas políticas”, explicou.
O professor Braga Neto, alerta, que, o pior ainda está por vir, por isso é importante é imprescindível para que o Estado começa a pensar e planejar Políticas públicas protetivas para os trabalhadores, “A previsão feita recentemente pelo Banco Mundial para o Brasil aponta para um aumento de 5 milhões de desempregados decorrentes da crise econômica. O pior para o trabalhador ainda está por vir. E não há como enfrentar uma situação como essa sem o recurso às políticas públicas protetivas do trabalho. Ou seja, os Estados nacionais serão agentes cada dia mais centrais neste mundo redesenhado pelo grande isolamento”. E conclui sua análise destacando a necessidade, de “Em um sentido progressista, os Estados poderão ampliar políticas redistributivas e investir na universalização do acesso à saúde, à educação, ao saneamento e à habitação. É claro que isso terá um preço que deverá ser pago conforme o princípio do “quem pode mais, paga mais”, ou seja, tributos e impostos progressivos. O caminho da renda cidadã incondicional será cada dia mais desejável e, de uma certa maneira, incontornável”.
Por outro lado, para o professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos, Doutor e Mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo – USP Rafael Grohmann chama atenção para outra perspectiva de uma mesma realidade. “De um lado, trabalhadores que ficam em home office estão perdendo parte dos seus salários, perdendo parte da jornada de trabalho, intensificando a própria precarização do trabalho. Por outro lado, esta situação acaba colocando ainda mais pessoas para trabalhar em plataformas digitais, como os entregadores, que estão sendo mais solicitados e expostos ao risco”.
Grohmann, alerta para uma cautela na hora de analisar a realidade atual. As analise precisará de um tempo prudencial para descrever com amplitude as consequências efetivas do home office e os avanços tecnológicos no mundo do trabalho, “Não dá para dizer, de um lado, que o capitalismo já ganhou e dominou tudo e, por outro, não dá para dizer que o capitalismo nunca esteve tão próximo do seu fim. Isso seria de uma ingenuidade tremenda de não ver como as lógicas do capital, num cenário de financeirização e plataformização, e as grandes empresas tecnológicas estão de mãos dadas com vigilância extrema aos trabalhadores, inclusive pela própria gestão algorítmica. Por isso considero que este é um cenário aberto e que setores progressistas da sociedade têm que disputar o que é e como apreendemos outros futuros possíveis a partir disso que está acontecendo também no mundo do trabalho”. O bom senso neste sentido é fundamental para analisar a realidade, longe das paixões politicas simplória.
Aliás, o que Grohmann, destaca e demonstra ao mesmo tempo na entrevista é uma grande preocupação ao analisar a tendência de crescimento das desigualdades, “A intensificação da digitalização do trabalho, neste contexto de pandemia, vai trazer uma intensificação das desigualdades de gênero, de raça, de classe num contexto como o do Brasil. Isso vai acabar dividido em pessoas que podem fazer home office e pessoas que estarão nas ruas e o trabalho digital feito de casa, em home office, com diferentes clivagens”.
Finalmente, Grohmann, ressalta a urgência e a necessidade para que o Estado possa de pautar debates sobre a possibilidade de implantar uma renda básica universal, que supere o conceito e a falácia do empreendedorismo, “Na verdade, hoje, falar em renda básica universal nesse cenário é o mínimo em que uma saída liberal poderia incorrer. É o mínimo em um cenário de situação econômica tão grave que não se vê desde 1930. O que se prenuncia é isto: de que maneira os Estados vão assumir, no mínimo, essa tarefa? É preciso buscar formas alternativas de sustentação de arranjos produtivos para além da falácia do empreendedorismo”.
No próximo artigo nos debruçaremos mais sobre a falácia do empreendedorismo.

  • Daniel Andrés Baez Brizueña é formado em Teologia, Ciencia das religiões, Marketing, Letras e Filosofia.

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